É o que diz o site da Uol,em 02.Outubro
O rap cansou de discursar só sobre bases ritmadas e subiu ao palanque. O Brasil tem mais de 30 candidatos nessas eleições municipais. Um deles quer ser até prefeito: Aliado G, do grupo Face da Morte, concorre pelo PC do B à Prefeitura de Hortolândia (cidade a 105 km a noroeste de São Paulo).
Tem mano querendo virar político em Fortaleza (Preto Rap), Rio de Janeiro (DJ Sadam), Porto Alegre (Mano Oxi), na gaúcha Sapucaia do Sul (DJ Gutti) e na mato-grossense Sinop (Mano Higor). Há também quem já tente a reeleição, como Anderson 4P, lutando por mais quatro anos na Câmara de Francisco Morato, município da Grande São Paulo.
O rap viveu um boom no final da década passada, com os Racionais MC´s vendendo mais de um milhão de exemplares de "Sobrevivendo no Inferno" a partir de 1997. Desde a eleição de 2000, o movimento tem integrantes em campanha. Um desses pioneiros é Renê do Rap (PRN), que novamente tenta virar vereador paulistano. "Naquela época me chamavam de louco, que o rap nunca ia entrar na política. Agora todo mundo quer virar político", diz o rapper que faz campanha na Zona Oeste. (Veja ao lado três dos candidatos do rap em São Paulo)
Ele dá suas correrias pela Zona Oeste, nas quebradas como a favela São Remo e o morro do Querosene. Distribui seus salves para os possíveis eleitores. "firmeza, Jão?", "É tudo nóis" e "fala, moleque" são alguns dos cumprimentos que distribui pelas vielas.
Mas nem tudo são flores na perifa. Na beira de um córrego, um seguidor do vereador Antônio Carlos Rodrigues (PMDB) arma uma treta com o rapper aprendiz de político, que prefere não bater boca. "Renê não manda nada aqui", fala Gabriel, o cabo eleitoral rival com a cara amarrada. "O irmão dele é gente fina, faz campanha prá gente. Mas esse aí é vacilão. Ganha um troco e tem que dar uma de pitbull. Depois a gente troca uma idéia com ele e vira Lassie", reage o candidato.Renê do Rap também polemiza dentro da comunidade hip hop. "Quem levantou o rap no Brasil foram os brancos no começo dos anos 90, tirando do gueto. Os negros só afundaram o movimento. Pára. Esses manos não sabem o que é o sistema político. Eu estou preparado. Vê o Mano Brown não sabe o que fala. Eu sim estou preparado, tenho projetos. Fazer rima é fácil. Sair candidato é que é difícil", solta o verbo.
Renê aponta para Primo Preto (PSDB), produtor dos Racionais MC´s que sai pela segunda vez candidato a vereador. "Ele paga de periferia, mas é dos Jardins. Não cresceu na favela", dispara. Primo Preto responde: "Vivia em uma quitinete no centro, que também tem pobreza. E minha família está por toda cidade, Brasilândia, Cidade Tiradentes. Sempre me identifiquei com os manos."
Meio-irmão de Branco Melo, cantor do Titãs que, com 14 anos a mais, custeou parte de seus estudos com o sucesso da banda de rock nos anos 80, Primo Preto concorreu à vereança em 2004 pelo PT com o número 13157.
O artigo 157 do Código Penal define assalto à mão armada e é senha dentro do mundo rap, principalmente o que fala de criminalidade, conhecido como gangsta rap. "Esse número sinaliza um incentivo ao crime", lança Renê. Primo retruca: "Hilariamente, o número foi sorteado, mas achei maravilhoso porque se identifica com o rap. Não defendo bandido ou ladrão. Mas usaria o 157 de novo. O problema é que já tinha outro candidato do PSDB com esse número."
Outro que faz associação numérica do movimento é Nuno Mendes (PC do B), locutor há 16 anos do programa mais tradicional do gênero. O final de seu número de candidato é 105, a sintonia de FM que dá nome à rádio que emite o "Espaço Rap".
Enquanto Primo Preto dispõe Mano Brown em seu santinho de campanha, Nuno Mendes conta com o apoio em vídeo dos Rappin Hood e Edy Rock (Racionais) em sua estréia eleitoral. "Eles deram uma força porque me conhecem faz tempo. O Rappin Hood era um moleque com uma demo embaixo do braço", conta o radialista.Manos opinam sobre os candidatos
Muitos participantes do movimento hip hop, contudo, desconfiam das candidaturas. "Eu não apóio esses caras que cresceram com o rap e agora querem sair dele. Não sei as intenções: se é promover a perifeira, o rap ou uma rádio", critica Mauro de Almeida, que também atende por DJ Cocão. (Confira no vídeo ao lado opiniões dos manos)
Além do rap, Mendes tenta associar sua imagem com a do "mano Lula" e da "mina Marta" nos comícios em que participa. E também nas festas da rádio 105, o locutor aparece para a panfletagem aproveitando a congregação do rap. "Eu represento um grupo com mais 30 candidatos pelo Brasil, a maioria do PC do B e PT. Qualquer um que for eleito vai levar a voz da periferia para a política. O projeto é coletivo, não é pessoal", diz Mendes sobre a ação orquestrada (no bom sentido) pela entidade Nação Hip Hop Brasil.
A rima de denúncia da pobreza e as críticas aos poderosos do país colocam o hip hop do lado esquerdo do ringue eleitoral. "O movimento rap é naturalmente socialista, afinal, é a visão que a periferia tem da realidade", decreta Gildean Silva, que compõe sob o nome de Panikinho.
Primo Preto discorda. "Não tem partido mais elitista que o PT no momento. Eles me boicotaram em 2004, não me deram santinho ou outdoor. Por isso, sai. O PSDB é um partido como qualquer outro, não finge que é diferente dos outros, como o PT. O Geraldinho [Alckmin] é mais humildão que a Marta, que não aperta mão de candidato de vereador", sentencia o produtor dos Racionais.Ele fez muita campanha na Vila Fundão, reduto de Mano Brown no Capão Redondo (Zona Sul da capital). "O barato é louco: se eu não cumprir os projetos e for pego roubando leite da merenda, os caras me matam. Sabem que tenho compromisso", fala sobre a cobrança da comunidade.
Mas qual é a posição dele em relação a Mano Brown, sempre com opiniões forte quanto a questão racial e social do país. "Sou mais articulado, mais diplomático, fui sempre eu negociei quem negociou com as gravadoras. Se for eleito, vou saber me colocar", afirma o produtor pela introdução da música "Capítulo 4, versículo 3" em que fala "aqui quem fala é Primo Preto, mais um sobrevivente" após apresentar estatísticas da opressão da população negra no país.
Renê do Rap também não acredita que o rap é majoritariamente de esquerda. "Hoje não tem mais ideologia. "Muito mano só quer saber de carrão, mina, cordão de ouro, charuto, vida louca, ostentação", aponta rapper com quatro discos que tem 20 anos. Nas Grandes Galerias, no centro de São Paulo, um andar subterrâneo é o reduto do movimento. Várias lojas vendem artigos que copiam o modelito do gueto norte-americano, no qual o ponto alto são os bonés com cifrão gigante bordado, simbolizando o sonho de ascensão social.
Com o estilo já longe do auge econômico de dez anos atrás, o rap continua atuante nos subúrbios brasileiros, com muitos grupos que reúnem poetas e rappers, muitas estudando em faculdades.Apesar das críticas de alguns deles, a versão política seria uma variação previsível, afinal, suas letras revoltadas denunciam um país que continua o mesmo. (Acompanhe ao lado rapper Jairo cantando música de protesto sobre a política nacional)
Um exemplo vivo é Erlei Roberto de Melo, nome de cartório para o rapper Aliado G, que está em segundo lugar nas pesquisas para a prefeitura de Hortolândia, cidade de 200 mil habitantes.
Ele aponta o "recorte classista" que existe no hip hop e em seu partido (o PC do B) e fala que o que os liga é "a luta de classes". Fugindo aos outros que apostam no máximo ao cargo de vereador, já em 2006 ele se lançou a deputado estadual - em entrevista, riu de tanta "geral" da polícia que recebeu durante a campanha.
Aliado G começou na década de 90 liderando o grupo Face da Morte, que, desde Hortolândia, conseguiu um sucesso nacional no gênero. Na época, lançou a música "Mancada" direcionada ao então prefeito Jair Padovani (PSDB), falando de desleixo na administração e da falta de água. Agora quer resolver ele próprio o problema.
Young X-Gee - Vol. 0.1: Come Into My World (Still Psycho) - 2020
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*::: SCREWED-N-CHOPPED :::*
* 01. Come Into My World *
*02. Now Watch em Drop *
*03. Murda After Midnite *
*04. Fuck You *
*05. Action Speakz Lo...
Há 4 anos